Mais de milhões de pessoas sem acesso a alimentação saudável, alerta UA
Argel, Argelia (PANA) - Mais de mil milhões de pessoas continuam sem acesso a uma alimentação saudável em África, ou seja, 42 por cento a nível mundial, declarou quarta-feira, em Argel, uma comissária da União Africana (UA), Josefa Correia Sacko.
A comissaria da UA para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável deu este alerta quando intervinha numa das sessões de debate sobre a alimentação pan-africana, sob o lema "necessidade de construir programas e projetos de desenvolvimento a um nível sub-regional para reforçar a segurança alimentar.
A diplomata angolana ao serviço pan-africano disse, nessa ocasião, que este número está a aumentar, juntando a estes dados cerca de 30 por cento das crianças raquíticas devido à desnutrição.
Além disso, acrescentou, uma crise alimentar sem precedentes, que se está a agravar todos os anos em resultado de novas crises sobreposta e que agravaram a situação de insegurança alimentar e nutricional no continente negro.
“Esta situação nutricional está a anular os modestos ganhos obtidos para se alcançar a Declaração de Malabo (assinada em junho de 2024) e a Agenda 2063 (da UA, elaborada no Togo), bem como os objetivos de desenvolvimento sustentável e faz perigar a promessa de se acabar com a fome e a desnutrição até 2030“, reforçou.
De acordo com a comissária, outro aspecto que tem afetado, e de que maneira, a segurança alimentar é que a agricultura africana é também a menos produtiva de todas as regiões do mundo.
“Em 2020, o rendimento médio dos cereais em África foi de 1,65 toneladas/hectare, ou seja, menos de metade da média mundial que é de 4,07 toneladas/hectare. Além disso, se nada for feito para corrigir esta situação, prevê-se que os rendimentos muito baixos das culturas africanas diminuam ainda mais de cinco por cento a 17 por cento até 2050, devido às alterações climáticas”, explicou.
Segundo ela, há a necessidade de se continuar a confrontar os principais fatores que estão na origem das recentes insegurança alimentar e subnutrição, ou seja, conflitos, extremos climáticos e choques económicos, combinados com o elevado custo dos alimentos nutritivos e desigualdades crescentes.
Para tal , é reforçada a importância das culturas locais marginalizadas que devem ser realçada para fazer face à crise alimentar mundial.
Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), apenas quatro espécies de plantas (arroz, milho, trigo e batata) e três espécies de animais (bovinos, suínos e galinhas) fornecem mais de 50 por cento da ingestão calórica da humanidade.
Salientou que as culturas tradicionais (culturas órfãs) caracterizam-se por subfinanciamento da investigação e do desenvolvimento, por muito pouca atenção dos serviços de extensão agrícola e cadeias de valor fracas e subdesenvolvidas, entre outras.
No seu entender, investimentos agrícolas devem ser substancialmente aumentados, tanto por fontes públicas como privadas, incluindo as inovadoras, como o financiamento misto, para se reduzir o risco do setor.
“Temos de criar programas e projetos de desenvolvimento prático regional e projetos de desenvolvimento prático a nível sub-regional para reforçar a segurança alimentar e promover a prosperidade entre os países vizinhos, tirando partido do Acordo de Livre Comércio Continental Africano, bem como o Programa de Parques Agrícolas da UA”, assegurou a Josefa Sacko.
As estatísticas fornecidas no Panorama Regional Africano da Segurança Alimentar e Nutrição - Estatísticas e Tendências 2023 indicam que quase 282.000.000 pessoas em África (cerca de 20 por cento da população) estão subnutridas, ou seja, um aumento de 57.000.000 pessoas, desde o início da pandemia da covid-19.
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